Solidão

18 de março de 2008

Como católica – sim, eu insisto em ser – saí do trabalho ontem direto para um ato penitencial, básico para a Semana Santa, em que deixo meus pecados para trás e me reconcilio com Ele, ou melhor, com os Três D’Ele.

Pois bem, estava com meus pais e, como parte do ritual, deveríamos levantar, ir ao altar e, aos pares, lavar as mãos uns dos outros para, assim, ter nossos erros apagados. Solidão. De repente, me vi solta no mundo. Quem lavaria minhas mãos? Meus pais são um casal (na verdade, são um só, mas isso é assunto para outro post). Eu estava ali, sozinha. Olhei para um senhorzinho que também estava só e disse a ele que fosse comigo. Ele preferiu ir com meu pai, coisa de idoso que respeita a família alheia. Fui com minha mãe, com um tremendo nó na garganta, que mesmo ali, não conseguiu me fazer chorar.

Ficou claro que ali estava meu futuro, minha vida. Solidão. Tenho a certeza de estar deslocada há muito tempo. Em alguns momentos isso apenas fica mais óbvio. Sim, me entristece. Vai chegar o dia em que estarei sem ninguém no mundo, em que terei, com sorte, os amigos para me enterrarem. Quando Ele me perguntou o que eu desejava, lembro de ter dito que queria ser independente. Pago pelo meu desejo. Perto do fim – nunca quis tanto que ele não demore para vir – serei eu e uma coleção de lembranças sem importância, provavelmente. Memórias de uma vida vazia, construída de sonhos que não me levaram a lugar nenhum.

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